sábado, 5 de maio de 2012

A odisseia de Dublin

O dia começou normalmente, o mais tranquilo possível. Fui almoçar no Mensa com o pessoal, de lá voltei pro apartamento de Guilherme, fiquei deboando até considerar que já era tempo de arrumar minha mala. Mais uma vez eu tinha a difícil missão de colocar roupas em quantidade suficiente para durarem uma semana inteira sem fazer com que o volume da mochila estourasse as dimensões limitadas pela Ryanair. A solução pra resolver esse problema foi optar por uma única bermuda e duas camisas para serem usadas durante os três dias do festival. Afinal, se a galera passa 3, 4 dias acampando sem ao menos tomar um banho, não vejo problema nenhum em reutilizar a roupa suja.

Já havia decidido de que horas eu pegaria o trem para Bremen. Eu sairia de Braunschweig de 17:20, chegaria em Bremen de 19:40 e teria tempo suficiente para chegar até o aeroporto e embarcar às 21:55. E como eu tenho essa mania de fazer as coisas sempre em cima da hora, saí de casa às pressas, cronometrando os horários dos bondes para conseguir ainda parar na estação do centro da cidade para ir até o shopping e comprar um cartão de memória para a máquina fotográfica e voltar a tempo de pegar o próximo bonde para a estação. Nada como um pouco de tensão antes de embarcar, mas o sistema de transporte de Braunschweig nunca falha.

Pena não poder dizer o mesmo do sistema ferroviário nacional. Nas últimas semanas sempre estava rolando algum problema cuja razão eu desconhecia e acabava atrasando os trens que eu pegava. Pois é, eu não tinha me lembrado desse detalhe. Assim que cheguei na minha plataforma e olhei escada acima, vi o letreiro que anuncia o destino para o qual o trem parte com uma listra branca e uma mensagem se movendo na parte superior. Meu corpo inteiro gelou. Aquela listra só podia significar um atraso. Eu me aproximei do letreiro até conseguir enxergar o que a mensagem dizia, e a situação era pior do que eu pensava. Eram 50 minutos de atraso no trem. Logo em seguida anunciaram no auto falante que tinha chovido muito e alguns raios tinham danificado o trilho no meio do percurso de Braunschweig para Hannover. Resumindo: Fudeu!

Fui imediatamente para a máquina de tickets procurar quais outros trens eu podia pegar até Bremen, checar horários, etc, etc. A única opção que eu tinha era pegar um trem IC até Hannover e depois pegar um ICE para Bremen. O IC estava marcado para chegar às 17:50 e levaria meia hora até Hannover, e talvez se eu conversasse com os cobradores e explicasse o problema do outro trem que atrasou eu conseguisse usar meu passe de estudante e viajar sem pagar. Os minutos de espera foram agonizantes, terríveis. E a agonia aumentou depois que o relógio marcou 17:50 e nada do trem. Logo em seguida vinha o aviso de que o trem estava atrasado dez minutos. A angústia aumentava. Se ele atrasasse demais eu perderia o segundo trem.

Finalmente ele apareceu. E eu não era o único que queria pedir para viajar de graça. Um monte de gente avançou em cima dos funcionários do trem reclamando e eles acabaram liberando todo mundo para pegar o IC. E eu passei meia hora num dos corredores do vagão inquieto, me perguntando por que aquilo tudo estava acontecendo comigo, o que eu havia feito de mal ao mundo para merecer isso.

Cheguei em Hannover e corri para a plataforma do trem seguinte. Mais um atraso. Dessa vez foram uns cinco minutos, mas também foi um atraso. Embarquei e fui atrás do primeiro funcionário para comprar com ele um bilhete para Bremen. Tive que desembolsar 25 euros porque estava viajando de ICE, mas contanto que eu pegasse meu voo eu teria pago o preço que fosse. Agora só me restava esperar até o trem chegar em Bremen. Uma vez ele tendo saído da estação, só uma catástrofe para fazer o trem parar no meio do caminho.

Agora eu poderia me sentar numa cadeira confortável, mas a tensão era tão grande que eu me tremia. O coração pulsava acelerado e eu estava me sentindo quase enjoado de tão nervoso, mas eu precisava relaxar a todo custo, pois não havia mais nada que eu poderia fazer no momento. Liguei meu tocador de música e passei o resto da viagem olhando pela janela enquanto tentava não imaginar o que poderia acontecer se eu perdesse meu voo. Eu apenas perderia uma viagem para Dublin e o festival mais fodástico da minha vida, isso sem falar no dinheiro que já havia sido gasto nas passagens e no ingresso.

Cheguei em Bremen por volta das nove horas, quando deveria ter chegado às 19:40. O meu voo partia em míseros 55 minutos. Eu não podia perder tempo. Saí da estação correndo para o ponto de parada dos bondes. E mais uma decepção. O bonde que fazia a rota para o aeroporto a cada 20 minutos tinha partido quatro minutos antes. Ou seja, eu teria que esperar mais 16 minutos e outros 17 para chegar até o aeroporto. Se o trem não tivesse saído com atraso de Hannover eu teria pego o bonde na hora.

Não sei se as pessoas que passavam por mim percebiam alguma coisa, mas eu estava quase enlouquecendo. Andava de um lado para o outro me amaldiçoando, pensando como alguém podia ser tão zicado, começar o dia da melhor maneira possível e de repente ver tudo desabando à sua frente. Voltei a rezar, rezar como estava fazendo desde o trem de Hannover para Braunschweig. Rezei para tudo que existe. Para Deus, Alá, Buda, Odin, os deuses egípcios, dos índios, dos incas, para qualquer entidade que tivesse o poder de controlar os eventos que eu não perdesse esse maldito avião. Eu não merecia passar por isso. Eu havia planejado embarcar num trem que me faria chegar no aeroporto com duas horas de antecedência e agora estava ali esperando uma droga de um bonde faltando quase meia hora para o avião decolar. Eu podia ter pego um táxi. Não creio que o trânsito seria grande o suficiente para fazer com que o táxi fizesse o trajeto do bonde com uma diferença maior que 16 minutos. Mas eu estava numa situação que não conseguia pensar em nada. Só rezar. A contagem regressiva para a chegada do bonde durou uma eternidade até ele finalmente aparecer. Então mais uma vez eu me sentei para não ficar parecendo um maluco andando de um lado para o outro do bonde, abracei minha mochila e rezei para que tudo desse certo.

E assim, por volta de 21:40 o bonde parou em frente do aeroporto, a porta se abriu e eu disparei para a área de embarque. Ao chegar no local desejado, encontrei a fila de pessoas já no portão de embarque cheia de gente. Estava ficando mais aliviado. Quando entreguei minha passagem e meu passaporte para um dos funcionário do aeroporto e ele disse para eu me acalmar porque ainda não tinham começado o embarque, eu respirei aliviado. Eu havia conseguido. Não havia perdido o voo. Agora tudo o que eu queria era chegar em Dublin o mais rápido possível.

Só que não havia voos diretos de Bremen para Dublin. Eu ia primeiro para Londres e passaria a noite no outro aeroporto para embarcar de manhã para Dublin. O aeroporto de Londres estava lotado. Não havia um único assento disponível. Um monte de gente estava espalhada pelo chão do aeroporto. Os mochileiros de plantão tinham seus sacos de dormir para dar uma leve sensação de conforto. Eu encontrei um lugarzinho pra mim e tive que me contentar com o casaco que eu tinha para aliviar um pouco a dureza e a frieza do chão. Eu teria algumas poucas horas para dormir até que os balcões de check in fossem abertos de manhã cedo. Meu medo de perder o voo era tanto que eu cheguei a escrever num papel que se por acaso alguém passasse por mim depois das cinco da manhã e visse que eu ainda estava dormindo que tivesse a bondade de me acordar. Não queria correr o menor risco possível de perder esse voo. Mas meu nervosismo ainda era tão grande que eu mal consegui tirar um cochilo.

Então de cinco da manhã eu me levantei meio quebrado. Arrastei minha mochila, agora no modo com rodas ativado para que eu não precisasse ficar carregando ela, executei todos os procedimentos no aeroporto, cheguei tranquilo no meu portão e embarquei.

Finalmente, depois de passar pelas doze horas mais agonizantes de toda a minha vida, eu estava enfim em Dublin. Tudo havia acabado bem.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Um merecido descanso em Braunschweig

Então mais um mês de intercâmbio estava chegando ao fim. junho estava se despedindo, mas havia trazido com ele o verão, ótimas viagens e shows fantásticos. E julho prometia ser um mês ainda mais intenso.

Se tem uma coisa que é tão boa quanto viajar é planejar a viagem. O intercâmbio já estava na reta final. Em um mês e meio eu voltaria para minha querida cidade natal, e então era hora de me programar para visitar os locais que eu ainda estava interessado em ir. Com o período e o roteiro da viagem com os meus pais já definida, além das datas do Oxegen Festival na Irlanda e um show de Bon Jovi em Düsseldorf, eu precisava me organizar para que cada um destes eventos se interligasse de maneira perfeita.

E assim, depois de muitas pesquisas, eu finalmente conclui todo o planejamento da minha última viagem, que começaria no dia 7 de julho e se encerraria no dia 30. Tudo cuidadosamente preparado como vocês podem conferir a seguir:

Dia 6 - Saída de Braunschweig durante a tarde, pegar um trem para Bremen, pernoitar na Hauptbahnhof e seguir para o aeroporto.
Dia 7 - Chegada de manhã em Dublin, me encontrar com Rodrigo e Maria e turistar com eles pela cidade.
Dias 8/9/10 - Oxegen Festival.
Dia 11 - Mais um dia de turistagem em Dublin.
Dia 12 - Pegar um voo de Dublin para Bruxelas, turistar em Bruxelas.
Dia 13 - Pegar um trem de Bruxelas para Düsseldorf, ver o show de Bon Jovi, pernoitar na cidade.
Dia 14 - Pegar um trem de Düsseldorf para Braunschweig, arrumar minha mala, relaxar um pouco, dormir.
Dia 15 - Acordar cedo para pegar um trem até Munique, me encontrar com meus pais e turistar em Munique.
Dia 16 - Turistar em Munique.
Dia 17 - Turistar em Munique, alugar um carro e dirigir até Füssen/Schwangau.
Dia 18 - Visitar os castelos alemães e turistar pelas cidadezinhas.
Dia 19 - Seguir de carro até Konstanz e turistar por lá.
Dia 20 - Pegar um trem para Stuttgart e turistar mais um pouco.
Dia 21 - Turistar em Stuttgart.
Dia 22 - Pegar um trem para Paris e turistar por lá até o dia 25.
Dia 25 - Pegar um voo de Paris para Bratislava.
Dia 26 - Turistar em Bratislava.
Dia 27 - Pegar um trem de Bratislava para Viena e turistar em Viena.
Dia 28 - Pegar um trem de Viena para Munique, visitar minha amiga Camilla e fazer uma farra durante a tarde e a noite e pernoitar na Hauptbahnhof.
Dia 29 - Pegar um trem para Berlin, me encontrar com meu amigo Assis e seus colegas, e acompanhá-los na turistagem pela cidade.
Dia 30 - Enfim, pegar um trem de volta para Braunschweig.

Nada mau não é? Mas ainda vai haver muito tempo para essas histórias serem contadas, pois naquele momento eu estava em Braunschweig e tinha uma semana para relaxar ao máximo.

E assim a semana seguiu. Uma ida no boliche, uma ida num clube para nadar um pouco, umas cervejinhas e um churrasquinho no parque com a galera (acho que foi mais ou menos nessa época que nosso estoque de mais de vinte grades de cerveja que estavam no quarto de Poli e Guilherme desde a festa brasileira no final de abril finalmente acabou). Posso garantir com absoluta certeza que por causa dessa festa a cerveja que eu mais consumi na Alemanha se chama Hasseröder. Nesse período eu passei um tempo como convidado no quarto de Rominho e no quarto de Poli e Gui, então eu tive que compensar o incômodo preparando o jantar e lavando a louça da galera de vez em quando. A turma tomou gosto pela cozinha do apartamento dos dois. Quase toda noite tinha gente esperando pra filar o jantarzinho que era preparado lá.

 Uma tarde no parque com direito a um churrasco alemão e algumas cervejas Hasseröder na companhia de Alex, Barretão e do Meninão.

Uma das noites dessa semana acabou ficando marcada quando Kássio adentrou o quartel general dos brasileiros, vulgo quarto 40609 de Poli e Gui, erguendo seu pen drive como se fosse um troféu e dizendo que ali dentro estavam todos os arquivos necessários para a instalação do jogo Counter Strike. Nos instantes que se sucederem todos estavam indo para suas casas para trazer seus notebooks e instalar o jogo. O resultado final desta brincadeira foram algumas tardes e noites desperdiçadas na frente do computador por causa de um joguinho de tiro que todo mundo jogava quando tinha entre seus 10 a 15 anos de idade e eu só havia jogado umas três ou quatro vezes na vida. Obviamente então eu fui o maior fregue de todas as noites. Sempre era o que mais morria e o que menos matava. No auge da nossa jogatina chegamos a reunir dez pessoas conectadas ao mesmo servidor, estando todas elas confortavelmente instaladas no quartel e jogamos por horas e mais horas noite adentro.
O time formado por Kássio, Rodrigo e eu tentando derrotar nossos adversários que se encontravam no quarto ao lado, numa das inúmeras partidas de CS que jogamos durante essa semana.

Nessa rotina de acordar a qualquer hora, ir almoçar no Mensa, passar a tarde planejando minha viagem, escrever no blog, jogar counter strike, dar uma volta de bicicleta pela cidade, jantar, saír pra tomar uma cerveja num bar, ir pra uma festa numa boate e etc, a semana passou rapidamente.

E então chegou a noite de terça. Noite de Jolly Joker. Só que a galera não estava muito animada para ir pra lá, apenas Marcell, e eu acabei não me empolgando também e resolvi ficar em casa. Alguém tinha baixado mais um filme pra gente assistir. Um filme chamado Tron. Só que o filme era tão tosco que depois de uma meia hora eu comecei a considerar a possibilidade de ir para a Joker. Liguei para Marcell que me disse que a casa estava cheia de gente e que estava muito legal por lá. Não tive dúvida. Troquei de roupa rapidinho e corri para a parada de ônibus para pegar o último busão da noite.

E dentre todas as decisões que eu tive que fazer durante o período de intercâmbio, sem dúvida essa de não continuar assistindo o filme e ir para a Jolly Joker, a boate favorita da galera de Braunschweig.

Só que se por um lado não havia como a noite ter terminado melhor, o dia que tinha tudo para ser maravilhoso acabou por me trazer uma série de acontecimentos que me levou a um dos maiores níveis de desespero que eu pude experimentar durante toda a minha vida. Mas essa história merece um capítulo só para ela.

domingo, 8 de abril de 2012

Euro Reise - Estocolmo II

Pois bem, continuando os relatos de Estocolmo, no dia seguinte a turma já estava indo embora. Quem mandou eu atrasar em um dia a chegada. Acabei ficando pouco tempo com eles. Mas Rominho ia voltar para Braunschweig comigo, então tivemos um dia para turistar pela cidade. Dessa vez sem free tours ou pub crawls.

Mas eu pude economizar algumas estalecas suecas pegando a passagem de ônibus de turismo da turma, pois eles haviam comprado um tíquete que valia por três dias. Assim dava pra rodar pelos pontos mais interessantes da cidade sem precisar gastar horas e energia caminhando.

A primeira parada do dia acabou sendo num museu que foi construído para abrigar um navio de guerra sueco do século XVII, o Vasa. Tal qual o Titanic esse navio afundou em sua primeira viagem, só que o caso dele foi ainda pior, pois ele afundou na própria baía de onde havia saído. Na metade o século passado o navio foi localizado no fundo da baía praticamente intacto. Foi feito então um dos maiores resgates náuticos da história. Assim o museu conta toda a história do navio, de como foi que ocorreu seu naufrágio e como foi o processo de resgate e restauração do mesmo. Além disso o museu fala sobre a história de como era a Suécia no século XVII. Um lugar que realmente vale a pena visitar.


Ao longo do dia ainda visitamos mais alguns museus menores, como um museu de artes naturais, um pequeno oceanário, passeamos pelo centro onde eu pude comprar meus souvenires (mais um copinho pra minha coleção, hehe). O dia estava muito bonito, com o sol de verão brilhando intensamente e a temperatura bem agradável. Depois fomos para a estação rodoviária para que Rominho pudesse ficar descansando um pouco enquanto eu passava mais umas duas horas passeando pela cidade e aproveitando pra tirar mais algumas fotos. Estocolmo é uma cidade que vale a pena explorar por uns três dias, principalmente no verão.




Depois do passeio me reencontrei com Rominho na estação, aguardamos a saída do nosso ônibus que levaria quase duas horas para chegar até o aeroporto, onde viraríamos mais uma noite esperando o voo da Ryanair que sairia de manhã cedo. Nada como mais uma noite mal dormida num aeroporto. Mas pelo menos dessa vez eu não havia perdido o voo.

No dia seguinte estávamos de volta a Bremen, de onde pegaríamos mais um trem para Braunschweig. Eu agora estava disposto a descansar um pouco por lá. Depois dos apuros pelos quais em passei em Edimburgo, voltar a Braunschweig não podia ser mais prazeroso.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Euro Reise - Estocolmo

Pois bem, após todos os infortúnios estava eu finalmente dentro do avião certo, no horário certo, pronto para partir e chegar em Estocolmo com um dia de atraso. Ao chegar no aeroporto, a primeira coisa a fazer era sacar dinheiro, pois eu precisava das estalecas suecas. Uma euro parece-me que era algo em torno de treze estalecas suecas. E como eu estava na Escandinávia, o precinho dos serviços por lá não era dos mais baratos não. Mas o que são algumas centenas de estalecas pra quem já havia gasto 120 libras que não estavam na lista de despesas não é?

Como a nossa querida Ryanair gosta de operar em aeroportos de locais inóspitos eu tive que pegar um busão que levava cerca de uma hora e meia até chegar na cidade propriamente dita. Depois de me cansar de observar as paisagens daquele novo lugar da janela do meu ônibus, eu finalmente cheguei no centro da cidade, e com certa dificuldade, consegui encontrar meus queridos amigos. Estávamos enfim (quase) todos reunidos naquela que deveria ser a nossa última viagem num grupo grande. Na comitiva brasileira estavam presentes Rominho, Gui, Barretão, Alex, Barata. No momento não recordo se Rodrigo estava também.

Eu havia me comunicado com eles enquanto estava no aeroporto de Edimburgo pra explicar o que havia acontecido comigo, e eles comentaram que a cidade estava miada pra caramba. A explicação é que o fim de semana que havíamos escolhido para viajar era um grande feriado na Suécia, para comemorar o início do verão chamado de Mittsommerfest. Pesquisas feitas por meus amigos na internet relatavam grandes festas na cidade, mas quando eles chegaram lá foram informados pelo recepcionista do albergue que o fim de semana escolhido para a prática do "nosso tipo de turismo" era um dos piores, pois a turma aproveitava esse feriado para viajar para o interior do país. Resultado: A turma teve que se contentar com o turismo convencional, haha.

A primeira programação após a minha chegada foi visitar o mundialmente famoso Ice Bar de Estocolmo. Alex, como sempre prestativo, havia reservado um horário para nós nesse bar. Tínhamos direito a tomar uma dose de algum drink especial com a vodka mais querida da Suécia, Absolut e a permanecer por 45 minutos num ambiente a 5 graus negativos trajando um casaquinho simplório. Nada demais para quem havia enfrentado o inverno alemão. Abaixo podemos conferir Alex se divertindo bastante no bar.


O curioso dos drinks é que eles eram servidos em cubos de gelo com um buraco no meio para servir de copo. Algo turisticamente fodástico, hehe. Pena que não podíamos levar o copo pra casa (razões óbvias não é?). Engraçado também é que aqueles que que eram mais narigudos acabaram criando uma pequena curvatura na ponta de seus copos quando encostavam o nariz neles para beber.

Durante a noite saímos pela cidade para tentar encontrar algum lugar movimentado que pudesse admitir uma trupe de brasileiros ávidos por uma farra. Como era um domingo e muitos nativos estavam no interior do país, acabamos não encontrando nenhuma opção interessante, compramos algumas cervejas numa loja de conveniência (detalhe: as cervejas na Suécia têm uma graduação alcoólica menor do que nos outros países) e passamos uma boa parte da noite na frente de uma baía, jogando conversa fora e observando o céu que permaneceu com um tom azul escuro durante a madrugada. Céu azul a noite toda, nunca preto, algo realmente maravilhoso de se ver. Agora era assim porque estávamos praticamente no solstício de verão. Imagina a tensão que é no solstício de inverno. O sol que no verão deve começar a nascer umas três da manhã, no inverno se pondo umas três da tarde. Abaixo tem duas fotos para provar o que eu disse. Detalhe para a segunda foto com um relógio marcando 2:45 da manhã.



Ainda há histórias para se contar sobre o dia seguinte. Mas considerando que eu já deveria estar dormindo, vou ficar por aqui e dar continuidade a história num outro dia. Abraços.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Um dia no aeroporto

Pois bem, eu havia chegado de madrugada no aeroporto de Edimburgo, com horas de antecedência para o meu voo, e pensava que a única coisa que poderia me atrapalhar seria se eu acabasse dormindo além da conta. Considerando a falta de conforto do meu local de repouso e a preocupação em não perder a hora, dá para imaginar que eu não consegui dormir muito bem.

Mas como eu já estava bem acostumado a dormir em estações, aeroportos, trens e aviões eu teria bastante tempo para compensar essas horas mal dormidas num outro momento. O dia estava começando e o aeroporto já estava bem movimentado nas primeiras horas do dia. Como não havia razão para ficar perambulando pelo aeroporto sem rumo, fui logo me dirigir à área de embarque, pois meu voo não demoraria muito a sair. Mostrei a minha passagem, coloquei minha bolsa na esteira da inspeção de bagagens, peguei ela de volta e me encaminhei para meu portão de embarque, onde algumas pessoas já se encontravam na fila para entrarem no avião.

Eis que quando chega a minha vez, a minha tranquilidade recebe um tapa na cara, uma rasteira e uma cusparada. A comissária me informa que como eu não era cidadão da União Europeia eu precisava de um carimbo que deveria ter sido feito no balcão do check in. Sem esse carimbo eu não poderia embarcar. O detalhe é que faltavam cerca de trinta minutos para o avião decolar. Eu não conseguiria pegar esse carimbo a tempo. Implorei para a mulher de todas as formas dizendo que perderia o voo se fosse pegar o carimbo mas não teve jeito. E como o tempo estava passando não tive outra escolha senão tentar arrumar o maldito carimbo.

E nessas horas a Lei de Murphy é implacável. É claro que o meu voo tinha que sair do portão mais distante possível da saída da área de desembarque. Comecei a correr pelo aeroporto com minha mochila pesada nas costas, passando feito um raio por todo mundo até conseguir chegar no balcão. E aí precisei apelar para a boa vontade das pessoas para passar na frente de todos na fila e carimbar minha passagem. Feito isso fui novamente para a área de embarque. Murphy atacou de novo. A minha entrada não foi aceita porque a passagem já havia sido escaneada da outra vez. Voltei mais uma vez para o check in, consegui imprimir outra passagem. Consegui passar pela área de embarque. E aí a maldita segurança aeroportuária britânica apareceu para me atrapalhar mais ainda. Minha bolsa que na primeira vez passou sem problema desta vez foi  contemplada com uma revista minuciosa. O segurança abriu ela e inspecionou cada centímetro dela com toda a calma do mundo, sem nem sequer notar o quanto eu estava agoniado. Finalmente minha bagagem foi liberada e eu tive que retomar a minha corrida pelo terminal. Minhas pernas doíam, o pouco ar que eu conseguia respirar entrava queimando a garganta e eu cheguei ao meu portão de embarque já quase sem forças para encontrá-lo fechado. Ainda usei o pouco de fôlego que me sobrava para pedir às funcionárias que abrissem o portão, mas meu pedido foi negado. Fim de história. Eu havia perdido meu voo.

Sozinho no portão de embarque, com minha bolsa chutada para aliviar uma parte da minha raiva jogada no chão eu me sentei para ao menos recuperar o fôlego. Ainda bem que eu estava muito cansado porque senão era capaz de eu ter feito alguma besteira e complicado ainda mais a minha situação por lá. Depois do descanso era hora de colocar a cabeça no lugar e resolver como eu faria para pegar outro voo.

Caminhando agora sem a menor pressa pelo aeroporto, fui garimpando informações até chegar num dos balcões de serviço da Ryanair onde a funcionária me informou quais eram os voos disponíveis. Para Bremen só havia voo na segunda, mas para Estocolmo pelo menos sairia um no domingo de manhã. Eu ainda podia me encontrar com meus amigos e voltar de lá para a Alemanha tranquilo.

Resultado final das atuações de Murphy: Cento e vinte libras por uma passagem para Estocolmo e mais vinte e quatro horas de espera no aeroporto. Meio que para me flagelar pelo que aconteceu eu passei o resto do dia me alimentando à base de água e biscoito, munido apenas de uma revista de palavras cruzadas em inglês (que era bem mais difícil de resolver do que eu imaginava). Assim esperei o tempo passar dentro do aeroporto, enquanto a uns quilômetros dali os escoceses e outros turistas se aglomeravam na Royal Mile para ver o Príncipe William e sua esposa que haviam acabado de chegar para visitar a cidade. Pelo menos desta vez pude arrumar uns assentos que não tinham braços, permitindo assim que eu pudesse me deitar esticado. Comecei a cochilar. Acordava e voltava a dormir. Repeti estas ações pelo menos umas cinco vezes até que os seguranças do aeroporto começaram a acordar os dorminhocos, pois o domingo já havia chegado. Mais algumas horas e eu poderia finalmente chegar em Estocolmo.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Euro Reise - Edimburgo

Vou tentar cumprir a promessa que fiz a mim mesmo de conseguir terminar as histórias do intercâmbio. Quase deixei este blog morrer, mas não seria justo comigo mesmo simplesmente abandoná-lo sem concluir meus relatos. Então é hora de parar de enrolar e ir ao que interessa.

Pois bem, a última postagem foi sobre Praga, mas cronologicamente eu já relatei o que aconteceu no dia do meu aniversário, e depois de encerrar os festejos rumei para Edimburgo na companhia de Rominho.

Na chegada à cidade eu me impressionei logo com o fato dela ser diferente das demais que eu havia visitado. Nada desse clichê de um rio que corta a cidade, de um ponto central que concentra as atrações turísticas, dentre outras características. Edimburgo se destacava nesse ponto. Seu "centro" é chamado de Cidade Velha e é uma área localizada no alto de um morro, onde se encontra o castelo e várias outras construções centenárias, quiçá milenares.


Descendo o morro em direção ao mar fica a Cidade Nova, que começou a ser planejada depois que o centro começou a ficar pequeno.

Para começar o dia, a melhor opção era sem dúvida o famigerado free tour. Percorrendo as ruas e ladeiras da Cidade Velha, pudemos ouvir algumas histórias de escritores, algumas personalidades, histórias mais aterrorizantes e outras bem curiosas como a do cachorro Bobby, cuja lenda diz que após a morte do seu dono, passou a viver ao lado da sua tumba durante anos até o fim da sua vida, o que lhe garantiu até uma estátua bem fofinha numa das ruas da cidade.

O guia nos apresentou também ao pub onde a autora da série Harry Potter começou a rabiscar as primeiras páginas de sua famosíssima história.

Ao final do tour, retorno ao albergue para um descanso (afinal a maratona de passar a madrugada na hauptbahnhof de Bremen, pra poder de lá seguir para o aeroporto e enfim chegar na cidade é algo deveras cansativo). Durante a noite, a opção não poderia ser outra. Um pub crawl. Uma noite a ser lembrada para sempre na minha vida, pois tive a oportunidade de provar o meu primeiro Scotch Whisky Single Malt em um pub escocês original. Pedi logo dois whiskys diferentes para saboreá-los. O resto da noite acabou regado a cerveja mesmo.


No dia seguinte, uma quinta feira, eu e Rominho nos aventuramos em um tour a dois pela cidade. Visitamos o Scott Monument, uma torre construida em homenagem ao escritor escocês Sir Walter Scott, de onde podíamos subir para ter uma visão panorâmica da cidade e poder apreciar o Castelo de um outro ângulo. Visitamos um morro cujo nome não me recordo (ainda tentei procurar alguma coisa no google, mas não encontrei) de onde pudemos ter mais uma vista legal da cidade e tirar fotos em algumas construções históricas. No fim da tarde ainda deu tempo de visitar o Palácio de Holyroodhouse, vulgo a residência oficial da Rainha quando ela vai pernoitar na cidade. De lá pegamos a Royal Mile em direção à cidade velha, parando a cada minuto para explorar as lojinhas de souvenires.

Durante a noite, acabamos repetindo a dose do Pub Crawl por não termos conseguido nenhuma informação de algum outro lugar que fornecesse entretenimento noturno. E o pub crawl é sempre uma ótima oportunidade pra conhecer uma turma legal e fazer uns brindes. Não posso esquecer de comentar o fato de estar entrando numa boate de onze e meia da noite com o céu ainda azul escuro e sair de lá perto das três da manhã com o céu mais claro do que quando eu havia entrado. Nada como estar em pleno solstício de verão.

De manhã cedo, na sexta, me despedi de Rominho que seguiria para o aeroporto para pegar um voo para Estocolmo e se encontrar com o resto da turma de Braunschweig. Como eu já estava planejando esta viagem antes do pessoal anunciar que queria ir para a Suécia, eu acebei resolvendo minha situação comprando uma passagem para ir no sábado. Portanto eu teria a sexta inteira para explorar a cidade sozinho.

A minha primeira parada não poderia ser em outro lugar, no Museu do Scotch Whisky. Antes de fazer o passeio eu me deixei levar pela loja com alguns exemplares maravilhosos como o Dalmore Candela, que custava a bagatela de 7.500 libras. Um lugar absolutamente fantástico.


E então eu fiz um pequeno passeio num barril acompanhando um vídeo que mostrava o processo de fabricação do whisky. Depois eu e mais alguns turistas fomos para uma sala onde haveria uma pequena degustação. Um especialista nos contou sobre a história do whisky escocês, falando das quatro regiões da Escócia e das peculiaridades dos whiskies de cada região. Fiz a minha escolha pelo whisky de uma delas e me agradou bastante (até porque pra quem está acostumado com os whiskies 8 anos do Brasil, um single malt é a perfeição). Depois da degustação uma visita a uma enorme sala que possui a maior coleção de garrafas de whisky do mundo. E vejam só, ela pertencia a um brasileiro. Um sujeito chamado Claive Vidiz, que chegou a acumular mais de 3 mil garrafas. Sem dúvida eu virei fã dele.


Após este mágico passeio, não me restava mais muito o que ver na Cidade Velha. Decidi então descer o morro em direção ao mar para visitar o porto ou as docas. Foi uma caminhada deveras longa, mas recompensada por uma breve apresentação que os caças da força aérea escocesa estavam realizando. E claro, não podia faltar a foto com o gaitista escocês.

Comentário: essa gaita faz um barulho alto pra cacete!

Encerrei a viagem pegando a minha mochila e matando o tempo em um pub até umas onze da noite, quando peguei o ônibus para o aeroporto. Meu voo só partiria às seis e meia, portanto eu ia ter um tempinho para dormir nos "confortáveis" bancos do aeroporto e em breve estaria em Estocolmo com os meus amigos.

Mas alguns acontecimentos inesperados acabaram por mudar os meus planos...

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Euro Reise: Praga

E assim, eu estava em Dresden. Um pouco cansado, é verdade, mas como eu teria muito tempo para dormir em Recife procurei buscar algumas energias dentro de mim para aguentar o fim de semana.

Liguei para e turma, me explicaram onde eles estavam. Falaram de uma praça e a rua que eles estavam ficava entre duas ruas que terminavam nesta praça. Quando cheguei na tal praça comecei a dar a volta nela olhando o nome de todas as ruas. Obviamente a praça era grande pra caramba, com várias ruas que partiam dela e eu vim encontrar a rua desejada depois de ter dado uma volta completa. Se tivesse começado a procurar no sentido contrário seria a primeira rua que eu encontraria.

Deixando esse pequeno azar de lado, daí pra frente foi bem fácil de achar os caras. E qual a minha surpresa quando vejo o furgão de Christoph estacionado na rua sem nenhuma casa que aparentasse ser uma pousada ou albergue por perto. Pois é, os danados estavam dormindo no furgão desde a quinta feira quando saíram de Braunschweig para viajar. E eu teria que entrar na roda também. Pelo menos o carro era "bem equipado" como vocês podem notar na foto abaixo.


O banco atrás de Rominho e Damian virava uma cama e havia um compartimento na parte de cima do carro que a gente puxava e conseguia espaço para mais dois dormirem. Tá certo que éramos cinco, mas isso era só um pequeno detalhe.

Depois dos caras escovarem os dentes (pois é, tem até um lavabo dentro do furgão), lavarem o rosto e a cabeça, no melhor estilo banho de gato pudemos seguir viagem, que foi bem tranquila pelo menos para mim que dormi durante todo o percurso e acordei na capital tcheca.

Já havia passado de meio dia, então só teríamos algumas horas da tarde para dar uma volta pela cidade. Desse tempo disponível perdemos bastante atrás de alguma casa de câmbio para que o pessoal pudesse trocar os euros pelas estalecas tchecas. Só a cargo de informação a conversão Euro/Coroa Tcheca é algo da ordem de 1 para 23. Pense num trabalho que dava para ficar convertendo o preço das coisas. Apesar de tudo, muitas coisas lá são mais baratas. Já que era assim então podíamos nos dar ao luxo de pelo menos trocar os fast foods por um restaurantezinho mais pomposo. Pude então apreciar algumas costelas de porco acompanhadas de um cervejinha tcheca. Por sinal, todas as cervejas tchecas que eu provei eram muito boas.



E assim rapidinho o tempo passou e já estava na hora de realizar mais um pub crawl. Antes disso ainda voltei para o estacionamento onde nosso furgão estava para dar aquela calibrada no desodorante e no perfume e escovar os dentes. Em alguns segundos eu estava novo, hehe.

Mas no ponto de partida do pub crawl iniciou-se uma discussão sobre se realmente iríamos participar do evento ou não. Alguns achavam que valia a pena, outros estavam pensando que não havia muita gente e que podíamos usar o dinheiro do pub crawl para beber em outros lugares, já que a bebida não era tão cara assim. Acabamos optando apenas por seguir o grupo do pub crawl em sua peregrinação através dos bares. Uma cervejinha aqui, um rum com coca ali, um, dois, três bares, e no fim estávamos numa boate de nome complicadíssimo e que é dita ser a maior do leste europeu. E eu não duvido. Eram cinco andares, cada um com dois ambientes, cada um tocando um tipo de música diferente e todos lotados. A partir daí era cada um por si. Quem quiser que fosse para o local que lhe agradasse mais. E no final da noite todos deveriam se encontrar num determinado ponto.

Só que como sempre alguém não cumpre com o combinado (preciso diser que foi o argentino?) voltamos para o furgão eu, Rominho e o espanhol Marcos. Christoph foi outro que sumiu sem dar notícias. Eu preferi voltar logo para garantir meu lugar no carro. Acabei dormindo na parte de cima num local apertadinho e nem um pouco recomendado para clautrofóbicos, mas se é de graça tá valendo.

Acordamos no dia seguinte (tarde obviamente), Damian e Christoph haviam voltado. Damian contando para nós suas histórias de quem perde a noção do que estava fazendo e acaba em situações inusitadas e Chirstoph mostrando algumas fotos da cidade que ele havia tirado de manhã quando estava voltando para o carro. Ainda tivemos tempo de passear mais um pouco antes que a chuva acabasse de vez com o nosso ânimo e só nos deixasse com a alternativa de fazer mais uma refeição e então pegar a estrada para Braunschweig. Cerca de seis horas depois estávamos em nosso destino. É fácil saber qual foi a primeira coisa que fiz ao chegar em casa. Um banho urgente!!!