segunda-feira, 12 de março de 2012

Um dia no aeroporto

Pois bem, eu havia chegado de madrugada no aeroporto de Edimburgo, com horas de antecedência para o meu voo, e pensava que a única coisa que poderia me atrapalhar seria se eu acabasse dormindo além da conta. Considerando a falta de conforto do meu local de repouso e a preocupação em não perder a hora, dá para imaginar que eu não consegui dormir muito bem.

Mas como eu já estava bem acostumado a dormir em estações, aeroportos, trens e aviões eu teria bastante tempo para compensar essas horas mal dormidas num outro momento. O dia estava começando e o aeroporto já estava bem movimentado nas primeiras horas do dia. Como não havia razão para ficar perambulando pelo aeroporto sem rumo, fui logo me dirigir à área de embarque, pois meu voo não demoraria muito a sair. Mostrei a minha passagem, coloquei minha bolsa na esteira da inspeção de bagagens, peguei ela de volta e me encaminhei para meu portão de embarque, onde algumas pessoas já se encontravam na fila para entrarem no avião.

Eis que quando chega a minha vez, a minha tranquilidade recebe um tapa na cara, uma rasteira e uma cusparada. A comissária me informa que como eu não era cidadão da União Europeia eu precisava de um carimbo que deveria ter sido feito no balcão do check in. Sem esse carimbo eu não poderia embarcar. O detalhe é que faltavam cerca de trinta minutos para o avião decolar. Eu não conseguiria pegar esse carimbo a tempo. Implorei para a mulher de todas as formas dizendo que perderia o voo se fosse pegar o carimbo mas não teve jeito. E como o tempo estava passando não tive outra escolha senão tentar arrumar o maldito carimbo.

E nessas horas a Lei de Murphy é implacável. É claro que o meu voo tinha que sair do portão mais distante possível da saída da área de desembarque. Comecei a correr pelo aeroporto com minha mochila pesada nas costas, passando feito um raio por todo mundo até conseguir chegar no balcão. E aí precisei apelar para a boa vontade das pessoas para passar na frente de todos na fila e carimbar minha passagem. Feito isso fui novamente para a área de embarque. Murphy atacou de novo. A minha entrada não foi aceita porque a passagem já havia sido escaneada da outra vez. Voltei mais uma vez para o check in, consegui imprimir outra passagem. Consegui passar pela área de embarque. E aí a maldita segurança aeroportuária britânica apareceu para me atrapalhar mais ainda. Minha bolsa que na primeira vez passou sem problema desta vez foi  contemplada com uma revista minuciosa. O segurança abriu ela e inspecionou cada centímetro dela com toda a calma do mundo, sem nem sequer notar o quanto eu estava agoniado. Finalmente minha bagagem foi liberada e eu tive que retomar a minha corrida pelo terminal. Minhas pernas doíam, o pouco ar que eu conseguia respirar entrava queimando a garganta e eu cheguei ao meu portão de embarque já quase sem forças para encontrá-lo fechado. Ainda usei o pouco de fôlego que me sobrava para pedir às funcionárias que abrissem o portão, mas meu pedido foi negado. Fim de história. Eu havia perdido meu voo.

Sozinho no portão de embarque, com minha bolsa chutada para aliviar uma parte da minha raiva jogada no chão eu me sentei para ao menos recuperar o fôlego. Ainda bem que eu estava muito cansado porque senão era capaz de eu ter feito alguma besteira e complicado ainda mais a minha situação por lá. Depois do descanso era hora de colocar a cabeça no lugar e resolver como eu faria para pegar outro voo.

Caminhando agora sem a menor pressa pelo aeroporto, fui garimpando informações até chegar num dos balcões de serviço da Ryanair onde a funcionária me informou quais eram os voos disponíveis. Para Bremen só havia voo na segunda, mas para Estocolmo pelo menos sairia um no domingo de manhã. Eu ainda podia me encontrar com meus amigos e voltar de lá para a Alemanha tranquilo.

Resultado final das atuações de Murphy: Cento e vinte libras por uma passagem para Estocolmo e mais vinte e quatro horas de espera no aeroporto. Meio que para me flagelar pelo que aconteceu eu passei o resto do dia me alimentando à base de água e biscoito, munido apenas de uma revista de palavras cruzadas em inglês (que era bem mais difícil de resolver do que eu imaginava). Assim esperei o tempo passar dentro do aeroporto, enquanto a uns quilômetros dali os escoceses e outros turistas se aglomeravam na Royal Mile para ver o Príncipe William e sua esposa que haviam acabado de chegar para visitar a cidade. Pelo menos desta vez pude arrumar uns assentos que não tinham braços, permitindo assim que eu pudesse me deitar esticado. Comecei a cochilar. Acordava e voltava a dormir. Repeti estas ações pelo menos umas cinco vezes até que os seguranças do aeroporto começaram a acordar os dorminhocos, pois o domingo já havia chegado. Mais algumas horas e eu poderia finalmente chegar em Estocolmo.

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