domingo, 10 de abril de 2011

Hamburg - O Retorno

Segunda foi o dia das despedidas. Almocei junto com a turma do Brasil, arrumei minha mala (entenda-se: joguei as coisas dentro até não caber mais), e de noite cheguei em Hamburgo. Grande Hamburg! Nossos destinos se cruzaram novamente. Estávamos unidos desde o início por uma força maior.
Tá, deixando a babação um pouco de lado, lá fui eu carregando minhas duas malas e minha mochila pelo meio da rua. Ainda bem que o WG ficava a menos de dez minutos a pé da estação onde desci. Da última vez essas malas quase me mataram. Mas cheguei inteiro ao WG e fui recebido pelos meus novos colegas, um alemão chamado Marcus e duas alemãs, Franziska e Ann Christine. Batemos um papinho na cozinha enquanto eu comia a sobremesa que eles haviam feito e me despedi dos três cedo (dez e meia) para ir dormir, porque teria que acordar às quatro e meia (da manhã mesmo) para começar o meu estágio.
E o despertador tocou. Aquele sono maravilhoso havia sido interrompido em plena madrugada. Uma madrugada fria e escura, mas que eu precisava enfrentar para estar às seis da manhã em plena fábrica da Stulz e iniciar meus trabalhos. Foi difícil mas eu consegui. Lá estava eu, pronto pro que der e vier. E o que veio nos três primeiros dias foi o trabalho numa das áreas de montagem das máquinas. Passei os dias vendo quatro mecânicos divididos em duas duplas montando as máquinas. Era que nem um quebra cabeça gigante. Máquinas de 1,80 de altura, constituídas e centenas de parafusos, e canos, e estruturas metálicas e etc. Montá-las parecia até interessante, mas ficar só olhando era um saco, e eu passava os dias olhando pras máquinas feito um cachorro olha prum prato de comida só esperando os caras pedirem pra eu ajudar colocando algum parafuso, para pelo menos o tempo passar um pouco mais rápido.
Terminada a primeira semana de estágio, sem conhecer ninguém na cidade, a única opção que me restava era retornar a Braunschweig e passar o final de semana por lá. Apesar de a cidade já estar me entediando um pouco eu senti bastante falta dela. Nada melhor então que uma noite de sexta com uma festa num dos alojamentos de estudantes e muita gente conhecida para animar um pouco, com direito até a uma feijoada no domingo.
Depois era hora de retornar a Hamburgo porque a seman seria de muito trabalho. E a segunda semana não se mostrou muito diferente da primeira, continuei dando uma mãozinha pros mecânicos aqui e ali, de tarde voltava para casa e ter mais uma ou duas horas de sono para compensar o pouco que eu dormia durante as noites, assistia um pouco de tv, conversava sobre alguma casualidade com os meus novos colegas e passava o resto do tempo no computador, à espera do final de semana seguinte.
Agora eu estava pronto para reviver as noites boêmais de Hamburgo. Para isso entrei em contato com um velho amigo, Rodolfo, também recém chegado na cidade e saber qual era a boa da noite. Para começar um warm up no seu alojamento com uma amiga dele, Marina, e os vizinhos de andar do alojamento. Uma cervejinha aqui, um whiskyzinho ali, um pouco de música e um papinho pra conhecer um pouco a galera e então estávamos prontos para a Reeperbahn.
Grande Reeperbahn, velha de guerra. Se ninguém tem ideia do que fazer ou para onde ir, a noite vai sempre acabar lá e ficarão guardados na memória os momentos mais interessantes e divertidos ou histórias engraçadas (do tipo “um dia veio o porto e os tubarões se mudaram). E no sábado também não foi diferente, apenas mudou a galera, mas com os brasileiros sempre juntos. Se em Braunschweig eu vivia rodeado de engenheiros nascidos da Bahia pra baixo, agora estava na companhia de dois estudantes de direito vindos da mesma terra que eu. Enfim, simplesmente não dá para ficar longe dos brasileiros.
A rotina parecia estar começando a se estabelecer (acordar cedo, trabalhar, voltar pra casa, dormir mais um pouco, comer, desperdiçar a vida no computador, comer de novo, dormir), mas só faltava um detalhe. Meu quarto só duraria até o fim do mês. O tempo estava passando rápido e eu simplesmente não conseguia encontrar outro lugar. Todos os quartos que eu visitei neste período (e não foram poucos) tinham algum concorrente pela vaga. Ninguém gostava de mim, ninguém me escolhia e as minhas noites no meu quarto provisório estavam acabando. Gastei horas de metrô indo pra tudo quanto era canto da cidade, batendo papo com os donos dos quartos que estavam sendo oferecidos, tudo pra nada. Numa bela noite de sábado do início de abril eu me encontrava sem teto.

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